quinta-feira, junho 9

Sopa de Mandioquinha com Alho Poró e o eterno medo dos temperos.

ATENÇÃO = receita modo rápido é só seguir as letrinhas coloridas:

 meio quilo de mandioquinha
meio litro de leite
2 talos de alho-poró fatiado fininho
1 cebola picadinha
agua
caldo de legumes
sal
açafrão em pó
Paprika doce
Louro em pó
Noz moscada
Azeite
Cheiro verde picado



  Sempre adorei temperos, os mais exóticos possiveis, por favor, com as cores mais vibrantes e os cheiros mais envolventes. Quando penso no futuro, penso em uma cozinha com um armario cheio de condimentos em potinhos lindos e brilhantes, além é claro, de uma hortinha com tudo fresquinho e cheiroso.
  Mas isso no começo era uma coisa que me irritava demais, lá ia eu tacando baldes de tempero na comida e la vinha alguem atrás me reprimindo - "o que é isso?" "credo, vai ficar muito forte!!!" "cuidado com a pimentaaaaa" (perdão José, toda vez que eu te falei isso). Me irritava por que eu sempre tive um anseio fortissimo por sabores novos, por experienciar, pela percepção, claro que ficava ruim, claro que ficava forte, mas eu queria experimentar. Eu classificava essas pessoas imediatamente como fóbicas, com medo de viver e medo de provar, assim eu podia deixar meu desejo a salvo em algum lugar da minha sanidade, e não simplesmente chuta-lo. Foi no auge da minha irritação que eu decidi: Que se foda!!! Quem puder que me acompanhe, eu quero mais é malagueta na minha vida!!!..
  E tive, malagueta, calabreza, do reino, siria, japaleña, comari amarela, verde, vermelha, dedo-de-moça. Vivi paprika doce e picante. Açafrão, louro, manjericão e tomilho.
  Hoje fazendo sopa de mandioquinha meu cunhado que agora mora aqui em casa me disse enquanto eu ralava noz moscada "não sei usar esses temperos", é claro que eu abri a boca pronta pra uma aula, mas a aula não saiu e eu só consegui pensar que "eu tambem não sei". Depois que aquela febre por experimentar passou eu tive necessidade de compartilhar, a gente cozinha pra juntar pessoas ao nosso redor, cozinhar é comunicar algo, comida é expressão é significado. Claro que hoje eu quero que minha comida fique agradavel a todos, então alguns temperos eu temo, outros eu me jogo.
    Pegue ai o meio quilo de mandioquinha, acabei de descobrir que a mandioquinha como a cenoura, é só raspar a casca com uma faquinha que ela fica descascada. Faça isso. Dissolva o caldo de legume na agua, aproximadamente um litro, ou  menos, depende, o necessario pra cozinhar amandioquinha. Outra coisa com a qual eu mudei foi em relação ao caldo de legumes pronto, eu achava horrivel e desprezava. Claro que o feito em casa é 43242094 vezes melhor, mas não vou excluir todo mundo que tenha preguiça/pressa/falta de legumes pra gastar com caldo, das receitas.. e as vezes eu me enquadro em alguma dessas categorias.
Cozinhe até a mandioquinha no caldo de legumes até ficar macia. Bata essa mistura no liquidificador.
 Na panela refogue no azeite o alho poró e a cebola, acrescente o leite, e agora os temperos. Na receita original não tinha metade desses temperos, então aqui entrou o meu medo de exagerar ou ficar sonsa. Do açafrão eu não tenho medo, pode adicionar aí umas duas colheres de sopa cheia ou mais, acho que se eu tivesse que escolher uma cor para a maturidade, ela seria da cor de açafrão da terra em pó. Acho que açafrão e mandioquinha se complementam. Agora, louro em pó eu temo, é forte, é picante, do tipo que demais faz tossir, mas ele tambem é um tanto oriental, não sei, então, uma pitada, o mesmo com a paprika (que é até nome de filme erótico), mas paprika faz qualquer comida ficar alegre, mas demais deixa gosto de terra. Rale noz moscada na sua mistura, noz moscada, mesmo sendo alucinante, eu não temo, acho que primeiro por vc ter que ralar, vc não exagera (será que aqui cabe uma boa metafora entre esforço e exagero? acho que não). Misture tudo, e sal... uma colher de sal pra mim deu. (sal é uma grande dificuldade minha, mas acho que vou deixar um post só pra ele). Adicione nessa panela aquele creme que está no liquidificador, deve ter ficado um caldo bem grosso. Mexa, mexa, mexa.. quanto mais no fogo vc deixar, mais vai engrossar. Sirva com um fiozinho de azeite e cheiro verde picadinho. Essa receita ficou muito saborosa, o povo aqui curtiu, talvez por agora eu andar um tanto na segurança, mas claro, sempre desafiando um pouquinho minhas capacidades de medida, desafiando o paladar, mas sem chocar a quem amo.

Nova Proposta do blog

A proposta inicial do blog cozinha Rendez-Vous é postar receitas de quem não sabe cozinhar para quem não sabe cozinhar. Isso mesmo, com excessão de um colaborador nenhum de nós sabe cozinhar, estamos aprendendo, o que não nos impede de cozinhar e de compartilhar.
Do mesmo modo estamos vivendo. Acredito que sabemos viver na medida que não sabemos viver, mas tentamos, mas não nos impedimos de viver. E esse é um comum entre todos os colaboradores do blog, por isso resolvemos dar uma nova roupagem pra isso aqui. Vamos fazer do blog uma verdadeira cozinha, o verdadeiro lugar que passamos parte das nossas vidas compartilhando sabores e existencia. como marco inicial vou deixar uma receita de um trecho do livro "Dona Flor e seus Dois Maridos" do Jorge Amado que representa bem o espirito do blog e fala um pouco do que eu vou falar na proxima postagem:

Bilhete recente de dona Flor ao romancista
   "Caro amigo Jorge Amado, o bolo de puba que eu faço não tem receita, a bem dizer. Tomei explicação com dona Alda, mulher de seu Renato do museu, e aprendi fazendo. quebrando a cabeça até encontrar o ponto. (Não foi amando que aprendi a amar, não foi vivendo que aprendi a viver?)
  Vinte bolinhos de massa puba ou mais, conforme o tamnho que se quiser. Aconselho dona Zélia a fazer grande de uma vez, pois de bolo de puba todos gostam e pedem mais. Até eles dois, tão diferentes, só nisso combinando: doidos por bolo de puba ou carimã. Por outra coisa tambem? Me deixe em paz, seu Jorge, não me arrelie nem fale disso. Açúcar, sal, queijo ralado, manteiga, leite de coco, o fino e o grosso, dos dois se necessita. (Me diga o senhor, que escreve nas gazetas: por que se há de precisar sempre de dois amores, por que um só não basta ao coração da gente? As quantidades, ao gosto da pessoa, cada um tem seu paladar, prefere mais doce ou mais salgado, não é mesmo? A mistura bem ralinha. Forno quente.)
   Espero ter lhe atendido, seu Jorge, aqui está a receita que nem receita é, apenas um recado."